Seis motivos que dificultam o orgasmo feminino e como superá-los

Dados do Programa de Estudos em Sexualidade da USP revelam que 26% das mulheres brasileiras nunca tiveram um orgasmo, enquanto para os homens, o percentual é dez vezes menor, entre 2% e 3%.  Já para as lésbicas, o orgasmo não é um problema tão frequente. Mas por que essa disparidade entre homens e mulheres?

Antes que alguém cogite a hipótese, a ciência já confirmou: orgasmo existe. A sexóloga fundadora e coordenadora geral do ProSex (Projeto de Sexualidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo) Carmita Abdo, uma das maiores autoridades sobre o tema no país, define o orgasmo como um clímax de prazer somado a uma descarga de tensão que dura segundos. Ela explica que cada mulher vai sentir o orgasmo do seu modo, mas geralmente ele é composto por uma soma de sensações: os mamilos ficam enrijecidos, a vagina se contrai, lubrifica-se, contrai-se ainda mais, até que relaxa e sofre contrações involuntárias. Depois o corpo amolece e fica como se tivesse sido anestesiado.

– O orgasmo é uma sensação de grande prazer. Ele vem acompanhado do aumento da frequência dos batimentos cardíacos, arrepios pelo corpo e o frio na barriga. Acontece no corpo e na mente – completa Carmita.

Se sentir o orgasmo é bom, não senti-lo pode ser ruim, na mesma proporção. O acúmulo dessa energia pode causar irritabilidade, impaciência, intolerância e nervosismo. Os homens têm mais facilidade para se desprender dessa energia do que as mulheres e chegam ao orgasmo com mais frequência. Mas por quê? Para responder essa questão, convidamos a especialista para elencar os principais motivos que impedem a mulher de chegar ao apogeu sexual e o que fazer para ultrapassar essas barreiras.Confira:

 1.Falta de desejo sexual, a famigerada libido

O desejo sexual pode brotar de diversas maneiras: desde uma fantasia com o técnico da TV a cabo até uma música que inspire sensualidade. Porém, muitas mulheres encontram dificuldade justamente na hora do desejo. Uma pesquisa realizada pela Secretaria de Saúde de São Paulo, no Centro de Referência e Especialização em Sexologia (Cresex) do Hospital Estadual Pérola Byington, mostrou que a falta ou diminuição do desejo sexual afeta 48,5% das mulheres.

Segundo Carmita, o ciclo sexual é composto de três fases: desejo, excitação e orgasmo. Enquanto o orgasmo é o clímax – não necessariamente o fim –, o desejo é o princípio do ato sexual. Este ciclo funciona de acordo com o estímulo sexual que vai gerar o famoso tesão.

E esta falta de desejo pode ter uma série de origens físicas e emocionais. Entre elas podem estar o uso de tranquilizantes ou certos tipos de anticoncepcionais por tempo prolongado; tabagismo; consumo excessivo de álcool; diabetes; doenças vasculares; endometriose; menopausa; ressecamento vaginal; disfunção da produção hormonal e atrofia genital. Qualquer problema que cause dor na hora do sexo vai inibir o desejo. Outras razões comuns são depressão e falta de atração pelo parceiro. Então, a primeira coisa a se fazer é identificar o problema, com a ajuda de um profissional, para tratá-lo.

2. Falta de intimidade com o próprio corpo

Um dos fatores mais importantes para atingir o orgasmo é saber o que proporciona mais prazer na hora do sexo. Segundo Carmita, é necessário entender o próprio corpo para guiar o parceiro até ospontos, posições e toques que proporcionam mais prazer. Ou estimular a si mesma durante o ato. A anatomia do corpo feminino é igual para todas, no entanto, cada mulher sente o sexo de maneira diferente. Como o parceiro saberá o que proporciona mais prazer se a própria não souber? E como descobrir?

Masturbação é a resposta.

Nas últimas décadas, as conquistas do sexo feminino são inúmeras. No entanto, o tabu da masturbação permanece. Uma pesquisa realizada pelo Programa de Estudos em Sexualidade da USP mostra que cerca de 40% das mulheres brasileiras nunca se masturbaram. Entre os homens, o percentual é, novamente, dez vezes menor.

Para Carmita, a explicação desta diferença entre homens e mulheres está em dois fatores fundamentais: o anatômico e o cultural. Por ter seu órgão exposto, o homem está em contato frequente com o próprio pênis, o que não acontece com as mulheres. Homens também são incentivados durante a infância e adolescência a se tocarem, enquanto as mulheres são ensinadas a não manifestar desejos sexuais.

3. Falta de comunicação com o parceiro: “é assim que eu gosto!”

O orgasmo vem através do estímulo, principalmente, do clitóris, mas isso pode variar de acordo com as preferências da mulher. Há quem prefira preliminares prolongadas; outras encontram na penetração o maior prazer. Depois de conhecer o corpo, é necessário transmitir ao parceiro a sua preferência.

– A falta de experiência, habilidade ou conhecimento sobre o corpo feminino é muito comum entre os homens. Eles não sabem tudo e as preferências mudam de acordo com a mulher – revela Carmita.

Nada que uma boa conversa, na hora certa, não resolva.

– Não se aponta um equívoco do parceiro durante o sexo, pois isso pode incentivar um comportamento negativo nele. É uma conversa para outro momento de intimidade do casal – afirma. Sem autocensura.

4. Não estar bem consigo mesma

O sexo não deve ser uma obrigação. Os relatos de mulheres que transam sem estar com vontade são inúmeros. E, apesar do sexo ser a dois, o orgasmo é individual. Logo, o primeiro passo é estar bem consigo mesma. A vida delega às mulheres uma série de preocupações: filhos, casa, marido, trabalho. Mas isso não precisa ser desculpa para abrir mão do próprio prazer.

– A mulher deve estar bem consigo mesma. Para isso, ela precisa estar confortável na relação sexual – lembra a especialista.

É importante lembrar que a qualidade da vida sexual é que está em questão, logo, se comparar com outras mulheres não é saudável. A vida não é um filme ou novela. Da mesma forma que o sexo na sua forma real e cotidiana não é o mesmo dos vídeos na internet.

5. Quando o orgasmo é uma preocupação: “preciso gozar”

Carmita explica que a relação sexual deve ser vivenciada em todas suas fases: desejo, excitação e orgasmo. Não se começa o sexo pelo final. Parece óbvio, mas muitas mulheres começam o sexo já tendo o orgasmo em vista.

– É importante não se antecipar. A mulher vai obter o orgasmo como uma consequência do ato. Não é um dever, mas um prazer. E o fato de não se ter um orgasmo não significa que o sexo foi ruim, a satisfação é o que importa no final – completa.

6. Falta de sintonia com o parceiro

Chegar ao orgasmo ao mesmo tempo acontece mais no cinema do que na vida real. A tendência é que ele acabe ditando o fim do ato quando ejacula – o que geralmente acontece antes da mulher chegar ao orgasmo.

– Seja por machismo, desconhecimento, vergonha ou frustração, o homem tende e encerrar o ato sexual quando ejacula precocemente e a parceira fica refém deste comportamento – esclarece a especialista.

Essa falta de sintonia faz com que a mulher fique indisposta e se esquive do sexo ao longo do tempo. No entanto, a responsabilidade não é toda do homem. Segundo a sexóloga, essa deve ser uma preocupação do casal, que com um diálogo franco e sutil pode encontrar uma solução para o problema. Que tal aconselhar o parceiro para que busque ajuda profissional?

É necessário confiar na pessoa com quem se transa, mas sexo é troca e também cabe à mulher dar a direção do ato, dando preferência à posições nas quais se sinta mais estimulada, além de ter o domínio dos movimentos e da velocidade. Por cima ou por baixo, a mulher pode escolher a forma e a intensidade que a levem ao prazer.

Lembre-se: não existe um manual do orgasmo. Cada mulher pode descobrir a sua forma de chegar lá. Ele também não é um dever, mas pode ser um – intenso – prazer. Se permita, se ame e …

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